Expressões que escravizam


 Há frases que impulsionam a criatura para os mais elevados propósitos da vida.
 Porém, sem que se perceba, assimilamos expressões aparentemente fraternais, mas que nada tem de positivo. É o caso do “deixa de ser bobo”, “deixa comigo”, “vai por mim”, “só um instante”, “é para o seu bem” e tantas mais que aparentemente denotam qualidades mas escondem outras intenções, geralmente maléficas e prejudiciais.

 Neste artigo, nos dedicamos a comentar algumas delas, esperando que os leitores possam identificar outras, raciocinem a respeito e tirem bom proveito.

“Deixa de ser bobo, ...”
 Assim principia a iniciação de meninos e meninas nos vícios e maus hábitos. Esta frase parece especialmente cunhada pelo astral inferior para ser aplicada em todas as fases da vida humana. Nenhuma outra expressão tem o sentido de reunir tantos atributos negativos e produzir resultados mais devastadores. Pior até do que o clássico “sabe com quem está falando?”.

 Todo espírito reencarna puro, livre de influências materiais. Ele não se põe a perder. São os adultos, com seus ódios, egoísmos, orgulhos, ganância e desamor adquiridos por desconhecimento espiritual que o transformam. E o primeiro passo, o beabá, é ensinar às crianças a darem valor ao que não presta, ao que não é correto e faz sofrer.

 “Deixa de ser boba, menina” é intromissão mais costumeira no livre arbítrio de infanto-juvenis; é a imposição de quem se julga superior na hierarquia familiar ou social e ganha contornos mais absurdos quando se trata de pai ou mãe, avós ou irmãos mais velhos.

 Em geral, ser bobo tem o sentido de agir corretamente, com pensamentos de valor, resistir aos prazeres mundanos e vicios que a Terra oferece e que são de pleno conhecimento da criatura antes mesmo da reencarnação, de vez que até sabia de antemão em que ambiente viveria.

 Quem de nós não ouviu essa advertência ao longo da vida?

 Quem não se deixou levar, subjugando-se e até se deleitando com as ilusórias vantagens advindas de vícios e mazelas  locupletando material e imaterialmente do que pertencia a outra pessoa, não importando a péssima assistência moral que o inspirou?.

 Daí, o primeiro trago, o primeiro gole, a primeira picada, a prevaricação, o furto, etc, etc.
 E tudo se resume na falta de conhecimento sobre nossa composição astral e física. Tivesse consciência de que é um espírito encarnado, que se matriculou  nessa escola chamada Terra porque não procedeu corretamente na encarnação passada, teria um viver digno, baseado no princípio de não querer para os outros o que não deseja para si mesmo.

 E a lição do Mestre Luiz de Mattos para viver bem é tão curta, tão singela. Bastaria evitar o que faz sofrer (a si próprio ou outrem), o que não é correto e tudo aquilo que não seja para o bem incondicional.
“Vai por mim...”

 Não vá. Ou não se deve ir.
Geralmente o “vai por mim” pretende que a criatura não tenha vontade própria, seja um “Maria vai com as outras”, encerrando um sentido de alienação e subserviência. Na infância principia por viciar a criatura nos privilégios e favores malsãos, a perder a confiança em si mesmo e se deixar influenciar sem objeção.

 Quem se utiliza desse expediente deseja conquistar a confiança da pessoa e, invariavelmente, é um pilantra que não tem boas intenções, de vez que sequer respeita o livre-arbítrio do seu semelhante. No fundo que induzir alguém ao erro, ao mal, ao que não presta e só comprometer o arcabouço moral das criaturas.

 O “vai por mim” tem inúmeras aplicações e visa suscitar na criatura apenas atributos negativos e que comprometem a evolução espiritual. A vida tem legado inúmeros exemplos de criaturas que se complicaram por seguir à risca conselhos alheios. Essa frase satisfaz os indiferentes, os que estão habituados a aceitar explicações que nada explicam. São os que não admitem nem aceitam a vida sem proteção externa.

 Aliás, é preciso saber distinguir constatações de aconselhamento. O Racionalismo Cristão não dá conselho nem mesmo quando a intenção das criaturas é obter opinião acerca de suas vidas e procedimentos. Como seu objetivo é educar, esclarecer e orientar, tudo o que faz é visando tornar a vida das pessoas menos penosa.

 Todo pedido de aconselhamento feito à doutrina enseja uma resposta esclarecedora e educativa, nunca uma intromissão no livre arbítrio da criatura. Uma vez ciente do que se passa, cabe ao ser encarnado dar o rumo que lhe convier para a solução do problema que gerou a disposição de se aconselhar.

 “Vai por mim”, pelo contrário, tem o sentido de impedir que a criatura raciocine, o que, por falta de convicção das pessoas, é comum no plano Terra. Encontra abrigo nos preguiçosos físicos e mentais, nos desleixados de toda ordem, que transferem ao semelhante o dever de melhor pensar para decidir com responsabilidade.

 São, portanto, presas fáceis do astral inferior, verdadeiras marionetes, que mesmo diante do insucesso não assumem seu erro e atribuem a culpa única e exclusivamente ao seu conselheiro quando se dá conta das besteiras que fez.

 Se soubesse que é um espírito e por conseqüência imortal ainda que lhe falte o corpo físico, a criatura planejaria viver sem depender de adjutório moral alheio, chamando para si as responsabilidades por todos os atos e suas conseqüências.
 

“Deixa Comigo...”
  Não deixe, de jeito nenhum.

 Frase típica de quem tem o temperamento voluntarioso, ainda que nem perceba. Por melhor intencionada que esteja a prestativa criatura, seu “deixa comigo” pode estar adstrito a situações de somenos importância em sendo estritamente séria a questão.

 O oferecimento poderia estar carregado de bondade e pureza não tivesse o sentido de açambarcar uma responsabilidade que é de outra pessoa, que só consente por comodismo ou inspirado pela omissão e assim fugir ao cumprimento de um dever, seja qual for o nível de importância.

 Ninguém reencarna para transferir problemas e dificuldades. Ninguém reencarna para pedir caridade e favores. O espírito encarnado tem a obrigação de enfrentar os dissabores, assim como desfrutar das benesses que sua aplicação no trabalho honesto possa obter.

 Quem assume uma responsabilidade que não é originalmente sua, em geral, é um sentimentalista, cuja intenção é livrar outra pessoa de seu encargo, sem atinar que está alimentando a preguiça e impedindo que seja exercitada a força de vontade de quem promete substituir.

 Quem delega ao voluntarioso o poder de representá-lo numa obrigação trivial e comum não tem idéia dos riscos que assume. A menos que entregue suas obrigações a profissionais especializados, que nunca dizem “deixa comigo”, quem se livra de suas obrigações confiando que outros darão conta de seus encargos como se fossem eles mesmos são uns tolos. E nessa condição duplamente prejudicados.

 A uma, por dar margem ao agravamento de problemas, muitos irreversíveis, por conta da preguiça de agir.

 A duas, por contribuir para difusão de fanfarrões que julgam dominar problemas e soluções sem estar devidamente capacitado. Nesse caso, a delegação constitui um estímulo ao mal.

 O fato é que quem “deixa com outro” não deseja ajuda. Quer transferir um  problema, passar a bola e não admite compartilhar esforços. Quer que façam a sua vez e se esforcem por si, seja quais forem os fins e meios empregados.

 
“É para o seu bem..”
Expressão de entendimento subjetivo. Eu estou convicto que está sempre associada a um castigo, imposição ou intromissão no livre arbítrio alheio. Depois, o que é para o bem não pode jamais estar associado ao que é do mal. Não se promove o bem pelo mal, é impossível.
Penso que as pessoas que usam “é pro seu bem” são também egoístas e orgulhosas, pois a expressão exprime o sentido de impor aos outros seus hábitos, costumes  e atributos. Quase sempre, essa expressão se contrapõe a uma força de vontade adversa, a uma resistência. O “benfeitor” quer impor sua vontade, como quem diz “peguei uma gripe”, quando o certo seria dizer que a gripe o pegou.
Quantas amizades, namoros e casamentos não foram desfeitos, quantos abortos praticados, quantas vidas não foram ceifadas por conta do “é para o seu bem”? Que dizer de filhos arrancados das mães solteiras “para o bem” delas, para que futuramente pudessem enganar bons pretendentes?
E  das surras por desobediência infanto-juvenil  a pretexto de que a tortura física era pro bem de quem estava sendo violentado ou violentada, ainda que  fosse por não gostar das aulas de religião ou por não corresponder aos gastos dos pais com sua educação, tirando notas baixas?
A vida já é tão cruel com as crianças e adolescentes,  posto que crescem condicionadas a fazer raciocínios lógicos e não a exercitar a criatividade. Existe teste para medir o raciocínio das pessoas, para apurar o QI.  Mas não há teste para medir a criatividade, a capacidade de criar. Assim, uma pessoa com QI 200  é um gênio na capacidade de raciocínio. Mas pode  não ter a criatividade de quem tem a metade do QI do gênio. E o que move o mundo são a descoberta e a criação.
O “é pro seu bem” infelicita o “beneficiado”. Em casos extremos pode produzir ódio, vindita ou suicídio, como no Japão. Muitas pessoas se deixam subjugar por ser, supostamente, “para o bem”, abraçam profissões erradas, eqüidistantes das que, a rigor, escolheram em plano astral, para não contrariar os parentes  com maior ascendência sócio-econômica.
O “é pro seu bem” já era para ter sido banido pela sociedade, especialmente porque inspirou uniões infelizes, decisões erradas e atitudes extremas. É tal inútil quanto escravizante a ponto de haver quem acredite piamente que já recebeu corretivo para o seu bem e  que funcionou. Na verdade, o que funcionou foi a predisposição para o bem que trazem de seus mundos de origem. E nesse caso não foi o mal que produziu o bem, mas, sim, o bem que venceu o mal.
Ademais, o que é para o bem verdadeiro não se impõe. Tudo que é para o bem é solft, suave e bom como o próprio bem.
Por derradeiro, não esqueçamos que tomar injeção, beber remédios, ingerir alimentos saudáveis tem a finalidade de tratar da saúde do corpo físico. O bem é um atributo do espírito. Para se ter uma idéia, o “para o seu bem” seria recomendar à criatura que freqüentasse o Racionalismo Cristão. Mas nem isso fazemos. São as pessoas que despertam para a  verdade prodigalizada por Jesus, que Luiz de Mattos e Luiz Thomaz materializaram há 100 anos e aportam em nossas casas.

“Só um instante”

 Pra começar, o que pode ser apenas um instantinho para uma pessoa pode ser uma eternidade para outra.

 O conteúdo negativo dessa frase parece aumentar na medida que o tamanho da necessidade de quem vai esperar seja mais relevante.

 “Só um instante” não pode ser interpretado como gesto de solidariedade, de vez que quase sempre é empregada com velada educação. Quando muito, beira ao deboche se estiver relacionado a direitos pessoais ou com sentimento de desespero, pavor e dor. Pior ainda, quando diz respeito à “boa mentira”, empregada a pretexto de privar a pessoa de uma notícia ruim. Quem pretender ajudar alguém tem que ser capaz de fazer mais do que falar “só um minutinho”, “só um instante”

 Esta expressão, na maioria das vezes, tem por objetivo ludibriar, está associada a um engodo em via de ser praticado. O raciocínio lógico nos indica que “um instante” é algo tão breve que nem justifica atraso algum, enseja pronta-resposta, imediatamente

 Mesmo assim figura como válvula de escape, tábua de salvação de quem pretende se esquivar de alguém que exercite seu direito à informação ou atendimento. Parece estar vinculado tamanho da dignidade que se mede da criatura que reivindica direitos.

 “Um instante” vai depender, principalmente, do desprendimento e boa vontade de quem vamos esperar; dependerá do seu estado de espírito e humor. Quanto mais se prolongar o “um instante” mais irritabilidade despertam nas criaturas intolerantes e está arranjado o caminho para as discussões, intrigas e ameaças.

 Esta expressão está associada à falta de dedicação exclusiva à pessoa que busca auxílio ou informação, muito comum nos “call center” que aqui apelidamos de atendentes de telemarketing. Nunca a resposta ou o efetivo atendimento se processa naquele espaço de tempo, o que evidencia o curso de um engodo, da mentira e falta de respeito, atributos altamente negativos.

 Tem o condão de ser uma “mentirinha de nada”, inofensiva no entender dos que desconhecem a espiritualidade e apelam para esse expediente escuso. No íntimo, zomba de quem lhes procura em busca de qualquer socorro.

 É preciso estar preparado para reagir ao “um instante”, “só um minuto” ou equivalente, exercitar a paciência e tolerância e emitir bons pensamentos, pois a intenção é perturbadora, ainda que nem seja este o objetivo. Em resumo: não querer para si a obsessão que avassala os outros.